Brasil reforça uso de moeda local no Brics após pressão de Trump


Brasil do Brics propõe plataforma para uso de moedas locais no comércio internacional

Em meio à ofensiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brics, a presidência do Brasil do bloco se comprometeu a desenvolver uma plataforma que permita aos países-membros usarem suas próprias moedas para o comércio entre eles, o que poderia abrir caminho para substituir, em parte, o dólar como moeda do comércio internacional.


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Conflito de interesses

A medida contraria os interesses dos Estados Unidos, que iniciaram uma guerra comercial com a elevação de tarifas para alguns mercados e produtos, incluindo o aço e alumínio, mercadorias que o Brasil exporta para o país norte-americano.

Nessa quinta-feira (13), antes de se reunir com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que faz parte do Brics, o presidente Trump disse que o bloco estaria “morto” depois das ameaças que fez de taxar em 100% as importações dos países que substituam o dólar.

Cooperação e estabilidade global

O documento da presidência brasileira do Brics afirma que o “recurso insensato ao unilateralismo e a ascensão do extremismo em várias partes do mundo ameaçam a estabilidade global e aprofundam as desigualdades”.

O documento completa dizendo que “o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem destacado o potencial do Brics como espaço para construção das soluções de que o mundo tanto precisa. Mais do que nunca, a capacidade coletiva de negociar e superar conflitos por meio da diplomacia se mostra crucial. Nosso agrupamento dialoga com todos e está na vanguarda dos que defendem a reforma da governança global”.

Desdolarização e relações econômicas

O professor de ciência política Fabiano Mielniczuk, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), destacou que o Brasil terá que deixar mais claro para o mundo o que significa esse tipo de mecanismo de pagamento em moeda local.

“O Brasil tem enfatizado bastante, principalmente na figura do seu Sherpa novo, o [embaixador] Maurício Lirio, que não pretende avançar no sentido da desdolarização das relações econômicas internacionais. O Brasil não quer criar atritos com os EUA. E o Brasil precisa deixar claro até que ponto a criação de mecanismos para pagamento em moeda local no âmbito do Brics representa, ou não, uma alternativa ao dólar”, ponderou.

Para especialistas consultados pela Agência Brasil, os EUA buscam preservar sua hegemonia econômica global, que tem no dólar como moeda internacional uma das suas principais vantagens. Por outro lado, os países do Brics defendem que o uso de moedas locais para o comércio traz benefícios econômicos e reduz fragilidades externas, pois os países não precisariam recorrer sempre ao dólar para o comércio exterior.

IA e indústria

O Brasil ainda promete fortalecer a recém-criada Rede de Think Thanks sobre Finanças e a cooperação em infraestrutura, tributação e aduanas, assim como aprofundar a Parceria Brics para a Nova Revolução Industrial (PartNIR), “cujo objetivo é a diversificação e a atualização tecnológica da base industrial dos países do agrupamento”.

A regulação da Inteligência Artificial (IA) é outra agenda da presidência brasileira no Brics. Para o professor Fabiano Mielniczuk, o Brasil e os Brics precisam avançar na proteção dos dados produzidos nos países.

“Esses dados estão gerando riqueza para as big techs. O Brasil deveria focar na dimensão econômica da economia de dados que está por trás da geração de modelos de IA e não apenas regular o uso da IA.

O viés econômico de economia de dados está cada vez mais presente no tratamento de Inteligências Artificiais (IAs). De acordo com um especialista em Brics, se esse avanço continuar, os interesses do Sul Global serão atendidos. Essa afirmação levanta questões importantes sobre a representatividade e a equidade no cenário econômico mundial.

No documento que detalha as prioridades da presidência brasileira, o país se compromete a promover a defesa da reforma das instituições financeiras internacionais, com destaque para o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). A intenção é aumentar a representação dos países em desenvolvimento em posições de liderança nessas instituições, reconhecendo assim a importância das nações do Sul Global para a economia mundial.

Além disso, o Brasil pretende trabalhar para aprimorar iniciativas como o Novo Banco de Desenvolvimento e o Arranjo de Reservas para Contingências. O Arranjo de Reservas para Contingências do Brics (CRA), criado em 2014, é uma medida que visa fornecer suporte financeiro em casos de crises de liquidez nas economias do bloco. Com pelo menos US$ 100 bilhões em reservas, o CRA é uma ferramenta importante para garantir a estabilidade econômica dos países membros.

O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) é outra iniciativa significativa dos Brics. Atualmente liderado pela ex-presidenta brasileira Dilma Rousseff, o NBD tem como objetivo promover o uso de moedas locais e fortalecer a cooperação entre os países do bloco. A expansão do uso de moedas locais é uma estratégia defendida por Rousseff, que acredita que isso pode contribuir para uma maior autonomia financeira dos países membros.

Em resumo, as prioridades da presidência brasileira refletem um compromisso com a promoção da equidade e representatividade no cenário econômico internacional. A defesa da reforma das instituições financeiras internacionais, o fortalecimento do Arranjo de Reservas para Contingências e a promoção do uso de moedas locais são medidas que visam garantir um sistema financeiro mais justo e inclusivo para os países do Sul Global.

Fonte: Agência Brasil

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