
Dólar fecha em alta moderada após recuar pela manhã
Após recuar pela manhã em resposta ao anúncio ontem à noite de contenção de R$ 15 bilhões em gastos neste ano pelo governo, o dólar à vista ganhou força ao longo da tarde e fechou a sessão desta sexta-feira em alta moderada, na casa de R$ 5,60. A perda de fôlego do real se deu em meio à aceleração dos ganhos da moeda americana no exterior na segunda etapa de negócios, em especial na comparação com divisas emergentes latino-americanas, como os pesos chileno e o mexicano.
Fatores de influência no mercado financeiro
O dia foi marcado por uma forte deterioração de ativos de risco, com tombo das bolsas em Nova York, queda das commodities metálicas e recuo de cerca de 3% das cotações internacionais do petróleo. Investidores adotaram uma postura defensiva antes do fim de semana em razão do “apagão cibernético” na madrugada de ontem para hoje – que afetou sistemas financeiros e de transporte – e dúvidas crescentes em torno da corrida eleitoral americana, diante da pressão para que o presidente Joe Biden abandone a disputa.
Variação do dólar ao longo do pregão
Com mínima a R$ 5,5228 pela manhã e máxima a R$ 5,6079, na última hora de negócios, o dólar à vista encerrou o pregão em alta de 0,28%, cotado a R$ 5,6039 – novamente no maior valor desde 2 de julho, a última vez em que a divisa fechou acima da linha de R$ 5,60 (R$ 5,6648). Operadores afirmam que houve um movimento mais intenso de busca por posições defensivas no segmento futuro ao longo da tarde que insuflou o dólar também no spot. Na semana, a moeda acumulou valorização de 3,18%, o que levou os ganhos no ano a 15,46%.
Análise do economista-chefe da Monte Bravo
O economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, observa que o anúncio da contenção de gastos diminui um pouco a percepção de risco fiscal e poderia ter levado o dólar a fechar em queda, embora moderada hoje, não fosse uma piora do sentimento de risco no exterior que derrubou divisas emergentes.
Impacto das variáveis de risco no mercado financeiro
Costa lembra que a semana foi muito ruim para divisas latino-americanas, com trajetória desfavorável para os preços das principais commodities e desmonte de operações de carry trade deflagradas pela valorização do iene, após intervenção do Banco Central do Japão (BoJ) no mercado de câmbio. Além disso, o aumento do favoritismo do ex-presidente Donald Trump na corrida à Casa Branca aumentou a incerteza sobre a política economia nos EUA, com provável avanço do protecionismo.
Perspectivas futuras para o mercado cambial
“Passamos umas semanas falando da questão fiscal e da expectativa para o corte de juros nos EUA, mas nesta semana entraram novas variáveis de risco que afetam a taxa de câmbio”, diz Costa, para quem o dólar pode voltar para R$ 5,40 caso o governo dê novos sinais favoráveis do lado fiscal, como a confirmação da redução de R$ 25,9 bilhões em despesas no Orçamento de 2025, e haja mesmo cortes de juros pelo Federal Reserve a partir de setembro.
No início da noite de ontem, após reunião de ministro da Junta de Execução Orçamentária (JEO) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou de R$ 15 bilhões em despesas para cumprir a metas do arcabouço fiscal neste ano. Espera-se detalhamento dos cortes no relatório bimestral de receitas e despesas, a ser divulgado na segunda-feira, 22.
Dos R$ 15 bilhões congelados, serão R$ 11,2 bilhões de bloqueio, por causa de um gasto acima do limite de 2,5% previsto pelo arcabouço, e R$ 3,8 bilhões de contingenciamento, por causa da frustração de receitas em função das pendências junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Senado, já que a decisão sobre a compensação da desoneração ficou para setembro.
Para o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, não “há muitos motivos para se animar” com a contenção anunciada ontem. Olivares observa que o congelamento tem como objetivo cumprir a meta fiscal de 2024, mas nota que o valor anunciado garante, na melhor das hipóteses, um déficit de 0,25% do PIB, o intervalo de tolerância da meta (que é déficit primário zero).
“O que o governo está fazendo, na prática, é ter como meta um déficit de 0,25% do PIB. Pode até ter sido melhor do que se esperava na véspera, mas claramente é insuficiente para colocar a dívida pública em trajetória sustentável”, afirma Olivares.
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